Nada, zero, silêncio. Por um lado, o vazio, o fracasso, o deslize. Por outro, a possibilidade, todas as possibilidades. Quando “desistir/ não é mais uma alternativa”, escreve Paulo Henriques Britto, o que sobra? A liberdade total, responderia Sophia de Mello Breyner Andresen: “As coisas deixam-me passar/ Abrem alas de vazio pra que eu passe”. Arnaldo Antunes percebe que “nada/ com um vidro na frente/ já é alguma coisa”. Fabricio Corsaletti diz que “do outro lado da dor/ a água é luz/ a luz é nada”. E Wislawa Szymborska arremata: “Quando pronuncio a palavra Nada,/ crio algo que não cabe em nenhum não ser.” |
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do livro Nenhum mistério
“Caderno – X” A primeira tentativa
quase sempre dá em nada.
A segunda é mais do mesmo.
A terceira, malograda,
faz a pessoa pensar,
questionar metas e métodos,
antes de embarcar na quarta,
que dá num naufrágio épico.
A essa altura, desistir
não é mais uma alternativa:
o fracasso se tornou
a própria textura da vida,
e a hipótese do acerto
não entra sequer no cálculo.
Assistir à própria queda
agora é todo o espetáculo.
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